quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Prefácio do livro FILHOS DA PRETA, de Luiz Mozzambani Neto

Título: Filhos da Preta
Autor: Luiz Mozzambani Neto
Editora: Mozzambani Editorial
ISBN: 978-85-65815-00-0
Páginas: 220
Tipo de capa: Brochura
Ano: 2012
Tema: racismo
Gênero: Romance

Lançamento previsto para dia 12 de novembro de 2012
Encomendas pelo e-mail cultura@mozzambani.com.br
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Prefácio


“Sem dor.
Sem gritos.
Sem culpa.”

É neste tom de vida acabada, mesmo antes de ter morrido, que Luiz Mozzambani Neto apresenta a partida de Preta. Ela é retirada da história pelas mãos de João Manuel, de forma trágica mas... indolor. Abre-se assim o caminho para conhecermos mais o Branco e o Preto: os filhos da Preta.
Preta é parideira de um inusitado 2 em 1. Oprimido e opressor dividem o mesmo país, a mesma cidade, o mesmo bairro, a mesma casa, a mesma família e (aqui) até o mesmo corpo. É a contradição levada ao extremo. Preto e Branco, sendo filhos diferentes da mesma mãe, partilham o mesmo corpo, trocando de existência cada vez que adormecem, só se encontrando nos sonhos. É neste formato dicotómico e contraditório que se desenvolvem as vidas destes dois irmãos de um corpo só. Nascidos em condições mais que análogas, é a tónica epidérmica que marca suas vidas, uma com as oportunidades normais e legítimas e outra, vítima do daltonismo humano que inflige o racismo na sociedade.
 Atente-se quem pense que só de pigmentação revolta trata Luiz. São também retratadas as relações laborais da 1ª metade do séc. XX de um Brasil agrário, dividido pela côr mas também (e muito) pela classe. Neste termo, o autor escolheu a côr com que mais se identifica e lhe é particularmente próxima: a côr do trabalho.
A proximidade com as colheitas, com pequenos sitiantes, camaradas e meeiros; só é possível a quem escorre ideias provindas da Escola da Roça. É essa dimensão de vidas sofridas e gastas pelo trabalho que Luiz Mozzambani Neto nos partilha sem subterfúgios eufemísticos. Daí vem a dimensão interior, mais intimista, das personagens. A angústia e a alegria, o amor e o ódio, o sexo e o pudor; estão sempre presentes, contados de dentro para fora, das pessoas para uma vida cruel que se recusa a ser conquistada.
São trajetos contados por quem faz das letras o seu Sítio e da Roça a sua literatura.






Rui Abreu
Cientista Político
Universidade Nova de Lisboa

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